Acampei novamente neste fim de semana. Acho que estou querendo aproveitar as belezas do Brasil, antes de ir passar um longo tempo nos Estados Unidos. Desta vez, foi eu e mais dois amigos, e fomos para a Serra do Cipó, mais exatamente na Serra Morena. Um lugar bem perto de Belo Horizonte. Saímos na sexta à tarde de Belo Horizonte de ônibus, e chegamos ao local de desembarque do ônibus às 19h. O lugar era no meio de uma estrada deserta, em frente a três casinhas abandonadas, e dali deveríamos seguir uma trilha. Um dos meus amigos já tinha feito a caminhada por essa trilha, e achamos que ele sabia onde estava indo. Pegamos a trilha, que saia do meio das três casinhas abandonadas, no escuro, somente com a luz das lanternas para nos guiar. Invadimos algumas propriedades privadas, e continuamos seguindo a trilha, até descobrir uma hora depois que ela não estava nos levando onde queríamos... Achamos uma casinha iluminada nos arredores da trilha, e resolvemos pedir informações aos seus habitantes. Chamamos, as pessoas na casa que estavam alegres, de repente fizeram um silêncio. Chamamos de novo, e apareceu alguém, e após um tempo a pessoa, um homem um pouco grande com um porrete na mão, resolveu ir nos atender. Perguntamos sobre o lugar onde queríamos ir, e o sujeito nos indicou uma direção, de maneira meio apreensiva. Conversamos um pouco, e ele acabou ficando mais tranquilo, depois seguimos na direção indicada. Seguimos mais um pouco, e chegamos numa estrada de terra.
Todo o ponto de seguir a trilha, era que seguindo-a, atravessaríamos algums propriedades privadas sem chamar atenção nenhuma, e no final dela encontraríamos uma pequena área de camping escondida, e dessa área teríamos acesso a algumas cachoeiras sem a necessidade de pagar para visitá-las e nem para acampar ali perto. :P
Quando chegamos na estrada, todo o nosso plano foi inicialmente por água abaixo. Partindo dali, em qualquer lugar que chegássemos seria pela porta da frente. De qualquer maneira seguimos. Já estava muito escuro, e já tínhamos desistido de encontrar a trilha certa. Seguimos, e achamos a entrada de uma pousada aberta, mas totalmente abandonada. Fomos adentrando o local, e achamos a sede iluminada. Resolvemos então chegar para pedir informação, e de repente quando nos aproximávamos, alguém começa a gritar chamando nossa atenção. Estava escuro, e só percebemos a silhueta "um pouco gorda". O sujeito, que a partir de agora será conhecido como "O Gordão", ou "O Baleia" como foi denominado pelo Chico, um dos companheiros de empreitada, era o dono da pousada. Ele achou que estávamos invadindo o território dele, e começou a passar um sermão, dizendo que aquilo ali era uma propriedade particular, e que não éramos bem-vindos ali, e que não poderíamos acampar em lugar nenhum ali dentro, pois não havia mais área de camping ali, e que se quiséssemos acampar em qualquer lugar deveríamos pedir permissão antes, e procurar uma área de camping. Como vocês podem notar, ele não foi o que eu posso chamar de um cara simpático. Após este fato, ele pediu para que nos retirássemos de sua propriedade, e ainda chamou três capatazes para nos escoltarem até a portaria.
Na portaria ele resolve encrencar com a gente de novo. Perguntamos pra ele sobre até onde iam os limites da propriedade dele para que não tivéssemos mais problema com a critaura, e ele simplesmente não quis nos informar. Disse apenas que se nos visse em sua propriedade novamente, ele chamaria a polícia. (Só se a polícia viesse de helicóptero. O lugar era no meio do nada, praticamente sem acessos para veículos auto-motores terrestres.) Ainda nos mostrou uma placa, na portaria aberta, escura e abandonada de sua pousada, dizendo que quem quisesse entrar pra visitar deveria pagar R$10,00. Felizmente, ele só ficou na ameaça, e não nos fez pagar tal taxa. Fomos embora, e ele ainda ficou um tempo vigiando para ter certeza que realmente estávamos indo embora.
Sem saber para onde ir, continuamos seguindo a estrada, "um pouco chateados" com as boas-maneiras do Gordão. Andamos, andamos, pegamos uma trilha que não nos levou a lugar nenhum, voltamos para a estrada, andamos, andamos, andamos... Finalmente após um longo tempo de caminhada, encontramos uma placa indicando uma área de camping. Seguimos o caminho, que foi muito longo, e após uns 30 minutos desde a placa da área de camping, encontramos uma casinha com as luzes todas apagadas. Chegamos, e os cachorros começaram a fazer uma algazarra, e algum tempo depois, quando já achávamos que não havia ninguém ali, as luzes se acenderam. Um senhor apareceu na janela, perguntamos se podíamos acampar ali, e ele disse que o preço era de R$12,00 por cabeça por dia. Tentamos pechincar, e conseguimos diminuir o preço para R$10,00 por cabeça por dia. O importante foi que agora já sabíamos onde acampar. Armamos as barracas, comemos, bebemos e dormimos...
Acordamos no sábado. Pagamos a diária, perguntamos para o filho do senhor que nos recebeu a noite sobre a trilha para as cachoeiras, dizendo que estavámos indo embora até a estrada, mas que antes queríamos nadar um pouco nas cachoeiras. (A trilha para a estrada, a que nós queríamos ter feito no dia anterior, passava pelo terreno deste senhor, e as cachoeiras também estavam no mesmo terreno.) Ele nos indicou gentilmente o caminho e partimos em direção às águas. Após nem 10 minutos de caminhada encontramos um córrego, com uma pequena queda d'água. Alguns malabarismos com as mochilas, calças e botas depois, conseguimos atravessar o córrego, sem maiores problemas. Logo depois, a trilha continuava, e a uns 100 metros desde pequena queda-d'água, achamos a área que estávamos procurando inicialmente. Totalmente escondida, e que aparentemente era uma área de camping clandestina, e que havia sido usada a muito pouco tempo. Vários restos de fogões de pedras, e fogueiras, áreas de barracas demarcadas, alguns restos de alimentos espalhados, e etc...
Após encontrarmos nossa base de operações para o sábado. Saímos para nadar um pouco, depois almoçamos, montamos acampamento, e novamente a tarde fomos em direção a uma mega-cachoeira que havia ali perto. A cachoeria fazia parte do território onde nós acampamos à noite, mas o Gordão tinha um acordo com o dono deste terreno, e seus hóspedes também podiam usar a cachoeira. Inicialmente, ficamos um pouco receosos com este fato, e o fato de que o Baleia podia ter alguns olheiros dele ali. (Afinal, depois do tanto que ele falou nos nossos ouvidos, achamos que ele queria nos encontrar de novo de qualquer maneira caçando mais encrenca.) Do alto, avistamos a cachoeira, e várias pessoas estavam lá embaixo se divertindo. Após uma pequena deliberação entre eu e o Chico (o Thiago, nosso outro companheiro, tinha resolvido ficar no acampamento com preguiça de descer até a cachoeira), resolvemos chegar lá embaixo. Ninguém nos encheu a paciência, o poço da cachoeira era imenso, e tinha espaço mais que sobrando para todo mundo. Ficamos lá nadando um bom tempo, e eventualmente resolvemos voltar. Mas antes, como que caçando encrenca, resolvemos adentrar novamente no território do Gordão, e avistamos de longe uma outra cachoeira que estava dentro de seu território. Tiramos uma foto, e aí sim resolvemos voltar.
Voltamos por um caminho, escalando algumas pedras em outra cachoeira, o que nos poupou um longo tempo, e uma longa subida. Voltamos ao acampamento, e o Thiago havia feito uma pequena exploração para outros lados do terreno, e havia descoberto a trilha que nos levaria até a estrada no outro dia (a mesma que deveríamos ter seguido na sexta a noite, e que ele disse que conhecia... :P).
A noite foi chegando, pegamos alguns pedaços de madeira "secos" para fazer uma fogueira a noite. Juntamos tudo, e resolvemos esperar ficar mais a noite para acendê-la. Ficamos conversando. Resolvemos acender o nosso mini-fogareiro a gás para fazer um café. Após alguns míseros minutos, o gás acaba. Então resolvemos acender a fogueira. Ninguém tinha levado um único palito de fósforos, o Thiago tinha dois isqueiros, sendo que um deles não funcionava. Tentamos a técnica do lança-chamas com o meu desodorante spray, mas ele não era a base de álcool. O Thiago então resolveu usar o seu outro isqueiro, um Zippo. Tínhamos um pouco de cachaça, e jogamos a cachaça na madeira. O Zippo funcionou bem, a cachaça pegou fogo, mas a porcaria da madeira não estava "totalmente" seca, e no final das contas, nós, um bando de amadores, não conseguiu acender uma pequena fogueira... Infelizmente, nenhum de nós era proficiente nas técnicas antigas para se acender fogo, e as únicas técnicas que conhecíamos era fósforo ou isqueiro + gasolina, alcóol ou querosene... :P
Passamos a noite no escuro, sem fogueira, sem gás para fazer qualquer tipo de alimento cozido, e portanto, comendo só bobagens como biscoitos, amendoins, chocolate, e coisas do tipo. E bebendo suco e/ou cachaça. Felizmente a noite estava limpa, e o céu estava maravilhoso. Num acampamento com dois astrofísicos (eu e o Chico), e um ex-quase-astrônomo (o Thiago), a única coisa possível era ficar viajando olhando as estrelas. Ficamos MUITO tempo olhando o céu, e falando bobagem. Divagando ao mesmo tempo se os clarões que a gente via eram faróis de carro, ou relâmpagos distantes, chegamos a conclusão que eram faróis depois de um longo tempo. Afinal não havia nuvem nenhuma no céu, e o clarão sempre aparecia no mesmo lugar. Quando estávamos quase desistindo de olhar pro céu, e ir dormir, avistamos do outro lado do rio, perto de onde estávamos acampando, dois clarões que iluminaram a montanha inteira de um lado ao outro, com uma luz totalmente homogênea e parcialmente azulada. Aconteceu duas vezes, e depois não vimos mais. Não tinha nenhuma relação com os clarões dos faróis, não podia ser lanterna nenhuma, e ficamos intrigados com aqueles fatos insólitos. Fomos dormir tarde da noite (20:30)!!! :P
Acordamos hoje cedo, levantamos acampamento, comemos, enchemos os cantis de água, e partimos pela trilha que o Thiago havia dito que nos levaria até a estrada. Desta vez ele acertou, e 30 minutos depois de sairmos do acampamento, estávamos na estrada, praticamente no mesmo ponto onde havíamos entrado na sexta-feira a noite, mas alguns metros de distância da trilha que havíamos seguido. (Não 3h depois como no primeiro dia.) Logo na saída desta trilha que nos levou a estrada, havia uma placa com os seguintes dizeres: "Área Privada. Proíbido entrar, acampar, caçar e pescar."
Enfim na estrada novamente, paramos, e esperamos o ônibus. Não fazíamos a menor idéia de que horas passaria um ônibus ali. A estrada era praticamente deserta. Passava um carro a cada 10 minutos. Por sorte, esperamos apenas uma hora até passar um ônibus que nos levaria até BH. Infelizmente uma viagem que normalmente não demoraria 1h e 30min, acabou demorando quase 3h. O ônibus parava em todos os lugares possíveis para pegar passageiros, ou seja andava 2 minutos, e tinha um perdido que dava sinal pro ônibus passar. No final das contas, meio-dia já estávamos novamente em BH, e pouco tempo depois eu já estava novamente no aconchego da minha casa.
Algumas pequenas notas sobre o acampamento. Falar mal do Gordão ou Baleia foi a melhor diversão do acampamento. Ás águas tanto das cachoeiras quanto dos córregos na região eram totalmente cristalinas, e foi muito divertido ficar nadando ali. Em um momento avistamos um gavião que ficou voando perto da gente de um lado para o outro durante longos, e longos momentos. Espetacular vê-lo planando no vento, como se ele controlasse o vento para ir onde ele queria. As noites foram um pouco frias, mas nada que nos fizesse sentir frio dormindo, e felizmente apesar das previsões não choveu uma gota! Foi ótimo!! :)